fev
05
(Nota preambular: Este centésimo post é, ironicamente o menos imediato de todos; foi pensado e escrito a duas mãos, retrabalhado e, por fim, colocado em banho-maria durante meses, até que uma das nossas duas almas decidiu repescá-lo da sua dormência para resolver a questão. E no entanto, metade já terá sido dito. Qual a relevância então ? Que se complementem as metades, pois ora!)O tempo era de ânimo (mesmo que apenas nos intervalos do desânimo). Deixávamos que o sol nos aquecesse várias parcelas despidas de nós e agradecíamos a frescura da ondulação a cobrir-nos os pés. Encontrávamo-nos na praia e em outros lugares, e dizíamo-nos um pouco uns aos outros. Um dia, até demos todos as mãos, como se fosse para sempre. Mas algo secreto teremos tomado nessa data, pois não mais fomos os mesmos, aqueles que se desejavam na distância física que os separava, trocando palavras de aquecer o quotidiano, quer das tintas, quer das brancas...
... terá sido uma onda mais alta que nos terá feito mossa no penteado ? Um iogurte de barbatanas de lagartixa que nos fez mal à vesícula ? Um globo tentacular que se espraía nas nossas azeitonas marmeleiras e nos entulhava o guardanapo com acrimónios de entupir o lavagante ? Ou seria isto tudo um perfeito delírio disparatado, fruto da nossa incompreensão do que vai na mente dos outros e do sentido que as coisas nos fazem ? Qual o sentido disto tudo ?
Bem, talvez não acrescente nada à nossa felicidade esta inquietação quanto ao sentido, uma vez que, para certas pessoas, tal palavra se completa, sempre e tão-somente, com os adjectivos 'obrigatório' ou 'proibido'. Ressalva para a existência do 'sentido único', claro! Sentido que é 'unilateral'...
Acho que me fico pelo perfeito delírio disparatado, que acontece aos melhores, obviamente, a gente que, em certos pontos da estrada da vida, se encanta com novidades aliciantes e se deixa imbuir de um espírito de identificação daqueles que estão mesmo a pedir aproximação maior, melhor, crescente...
Ajeitam-se os cabelos, tira-se a remela e intenta-se conhecer e aprofundar o presente num repasto combinado para a partilha das almas que andaram a mostrar-se aos bochechos.
Mas, no local escolhido, a areia da praia escaldava e houve quem não quisesse queimar os pés. E foi assim que os engraçados mais recentes tiveram noção do calejamento das suas plantas, pois calmamente assentaram os pés e ali estiveram a apreciar a zona de conforto dos engraçados mais antigos.
Porque as paixões duram no máximo dois anos, também esta paixão, fulgurante, parece ter acabado. Agora é tempo de perceber se continua amor, amizade, as duas, ou nada disso.
Lady Godiva e Aníbal Meireles
Olá Aníbal, Olá Lady
Parabéns pelo vosso Centésimo post, mas também pelo texto. está muito bem escrito, e nem eu esperava outra coisa desta dupla!
Penso que, apesar de terem algumas coisas em comum na maneira como abordam os temas e às vezes até com o mesmo tipo de ironia, tenho quase a certeza que conseguiria destinguir o que foi escrito por um e o que foi escrito pelo outro.
Beijinhos aos dois
Ora diz lá então, moça: Quem é que escreveu o quê?
(Até podíamos fazer disto uma espécie de jogo ou de concurso, ao jeito dos good old days...)
Bute lá, vá!